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Razão de Nossa Esperança

Nestes tempos enlameados de todos os lados, quando os direitos humanos parecem estar sendo conspurcados como jamais… em nome da ganância, do lucro, mata-se água, terra, gente. Envenena-se a comida e enche-se de substâncias tóxicas as águas dos rios e mesmo as subterrâneas e os mares, que também estão cheios de lixo. Indígenas estão sem seu chão (ah, mas isso já faz 500 anos!). Imigrantes – sobretudo haitianos e bolivianos – voltam a fazer trabalho escravo no Brasil. Não há lugar para eles. Tampouco há lugar para tantos, migrantes ou não, marginalizados dos grandes centros urbanos. Poluição; falta de educação; desemprego; sucateamento da saúde; corrupção; violência e criminalidade; desigualdade social; déficit habitacional: tantos são os males sociais que abafam nossa esperança. O Congresso Nacional? melhor me calar! Pois, nestes tempos, em que parece que a esperança volta vez por outra travestida de “mega sena” e que a ideia de felicidade se esconde tantas vezes simbolizada em um velhinho de barba branca, vestido de vermelho, camuflando todo o consumismo, como que a dizer: Natal é comprar e comprar (não, aqui não se trata de adquirir o necessário, afinal, a necessidade também pode ser produzida. Mesmo sem grana “necessito”, por exemplo, do último modelo de iphone). Nestes tempos… Ah!  Melhor é recordarmos a singeleza de uma história, plena de ternura, que inverte todos os “valores” nos quais a humanidade tem colocado suas esperanças:

Fazia frio, certamente. Mas os corações daqueles dois estavam aquecidos pela confiança de quem sabe em quem acreditou. Verdade que “não havia lugar para eles” naquela cidade. Mas havia lugar para Deus em sua casa, em suas vidas, no corpo daquela jovem. Daí, toda a esperança tem sentido. Porque Ele está presente. É por isso que pode ser chamado de Emanuel.

Como dar à luz Aquele que é a própria Luz do mundo? Como trazer à vida a origem da própria Vida, Aquele que é a Vida? A jovem Mãe guardava tantas coisas em seu coração… Tudo difícil de entender, por isso o melhor era se entregar completamente: mergulhar no Amor, que é Deus.

Quais os pensamentos, quais os sentimentos dos jovens pais na preparação daquele natal? Precisavam responder a necessidades básicas e a primeira delas era encontrar um lugar. E depois, prepará-lo, porque a vida merece cuidado. Toda a vida! E naquele extremo despojamento de tudo o casal só podia esperar em Deus. E Deus “veio habitar entre nós” e desde então podemos dizer, com toda verdade: “Ele está no meio de nós”.

Mais belo encontro: céu e terra se tocando, se presenteando… A humanidade se entrega a Deus em Maria, em José, na humilde contemplação dos pastores, na adoração tão buscada dos sábios do Oriente. Mais que ouro, incenso e mirra, cada pessoa é um presente único e inestimável de Deus ao mundo e de si mesma aos outros e a Deus. Este, por sua vez, ao se dar à humanidade como um bebezinho, faz-se o mais frágil e necessitado de cuidado de todos os seres vivos, mas nele recebemos uma incomparável dignidade. Em Jesus, Deus se faz humano. Mais tarde, quando ressuscita, leva aos céus nossa humanidade consigo. É portanto nele, somente nele, que divino e o humano se abraçam e isso, isso sim, deve nos encher de esperança e dar novo sentido aos nossos dias.

Nossa sociedade, nossas casas, nossa vida estão cheias demais de tantas coisas que seguem sem espaço para Jesus no Natal (para o Papai Noel e o que ele representa, até que há muitos locais…). Quando nasceu, Jesus precisou se abrigar entre animais, fora da cidade, porque não havia lugar para ele. Hoje, como há dois mil anos, segue não havendo lugar. É por isso que continua sendo atual o anúncio dos anjos aos pastores, naquela noite santa, em Belém: “Não temais! Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor.” Certamente temos razão para nossa esperança!

Tânia Jordão

Professora

Membro da equipe executiva do

Observatório da Evangelização da Arquidiocese de Belo Horizonte