A passagem da tocha olímpica por diferentes cidades tem congregado multidões, uma explosão de alegria e entusiasmo. No horizonte está o acontecimento dos jogos olímpicos no Rio de Janeiro. Um importante evento, considerada a sua força educativa, que pode contribuir para a promoção da paz entre os povos, ajudar a cultivar o sentido de disciplina que é caminho para muitas conquistas. A olimpíada traz um conjunto de lições e a tocha olímpica é seu símbolo. Sua luminosidade, que passa pelas ruas das cidades brasileiras, atraindo a atenção da mídia e das pessoas, tem poder simbólico que indica ser urgente carregar muitas outras tochas, uma interminável lista de itens.
É tarefa cidadã considerar essas necessidades e agir diante da urgência para se conquistar uma iluminação diferente, nova, capaz de retirar a sociedade brasileira dos lamaçais da corrupção. Essas tochas envolvem uma série de itens, possibilitando enxergar e alcançar novos ordenamentos sociais e políticos, fundamentais para uma arrancada mais rápida e consistente rumo à solução das crises que geram sofrimento e desfiguram o tecido cultural brasileiro.
A tocha da consciência moral deve receber investimentos, permanentemente, para evitar sua terrível degradação. O caos moral é responsável pela desarticulação das dinâmicas que sustentam o equilíbrio, a convivência, o sentido de respeito e honestidade, indispensáveis para a vida em comunidade. O tratamento inadequado dessa tocha, enfraquecida pelos relativismos ético-morais, é responsável pela violência e a indiferença. Quando falta a chama da consciência moral, a paz fica comprometida, perde-se a sensibilidade que é fonte para um remédio indispensável: a solidariedade humana, que equilibra relações e garante sustentabilidade ao tecido da cultura.
É preciso reacender a tocha da autoridade política, apagada pela ausência de envergadura moral na tarefa cidadã da representatividade, o que leva ao uso inadequado do poder. Acender essa tocha depende, fundamentalmente, da irrestrita consideração e respeito ao povo. A autoridade política precisa ter consciência de que a soberania é do povo, que confia o poder aos eleitos para representá-lo. Por isso, cabe aos políticos exercer seu papel seguindo orientações da lei moral. Desvirtuar essa lei significa apagar a tocha essencial para iluminar o caminho das autoridades. Na direção oposta, reluz quem promove os valores humanos e morais, para além dos conchavos partidários, dos loteamentos do poder e da satisfação de interesses que ameaçam o bem comum.
Não menos urgentes são os raios luminosos da tocha empunhada pelos construtores da sociedade civil, que precisam se deixar interpelar por um sentido mais amplo de vida. Assim, poderão, verdadeiramente, contribuir para multiplicar e tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos. A luz dessa tocha pode curar a cegueira que sustenta a idolatria ao dinheiro e a confiança nas ilusões produzidas pela mão invisível do mercado. Quando se conquista a luminosidade que faz enxergar de modo mais adequado a situação dos mais pobres, resultados duradouros são alcançados. Toda a sociedade precisa assumir o compromisso de agir para mudar a realidade dos que sofrem. Sem a luz da tocha da opção preferencial pelos pobres, haverá comprometimentos diversos, com prejuízos para todos.
No atual contexto, diante do entusiasmo e da significação que emanam do percurso da tocha olímpica, é oportuno listar outras muitas “chamas” que podem garantir o intocável respeito à dignidade humana e ao bem comum, para que haja a recuperação do sentido de autoridade política, adequada estruturação da economia e para que seja reconquistada a nobreza indispensável ao exercício da cidadania. Vitórias que serão alcançadas quando todos, com galhardia, disciplina e honestidade, erguerem essas muitas outras tochas.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte